19.1.09

Sobre um quitute que você não vai comer

O Catedral esfihas fechou. Fiquei sabendo graças a uma amiga e fui atrás da história. É aquele método de sempre: falar com todos os vizinhos, descobrir quem são os afetos e os desafetos; procurar a lista telefônica; navegar horas no Google; fazer com que colegas abram as agendas; suar. Apesar dos meus esforços, descobri muito pouco. A notícia principal mesmo é que você não vai mais comer aquelas esfihas deliciosas. Que pena.

16.1.09

Inspiração

Eu que tento todos os dias sentir um gosto novo, um cheiro novo e depois emitir alguma opinião sobre comida, me inspiro neste cara aqui. Vale a pena ao menos ler o blog Eu só queria jantar, se você não tem o privilégio de conviver com ele como eu.



05.01.09
Está gostando por quê?
por Luiz Américo 20:54:12 .
"Você gostou? Ou não gostou?"Obviamente é a primeira coisa que me perguntam quando comento que fui a um determinado restaurante. Ok, é mesmo a questão essencial a ser esclarecida.No contato direto, não há muito o que complicar a resposta: é dizer sim, não, mais ou menos...
Mas, por dever de ofício, você aprende que uma refeição se compreende por níveis, se assimila por camadas. Então, o fato de ter gostado mais ou menos depende muito do nível de profundidade em que você quer se expressar. Entenderam?Um primeiro patamar: se achei bom ou não. Depois: do que mais gostei, o que mais repudiei. Em seguida: por quais motivos gostei. E por aí segue a prospecção.
Escrever sobre comida envolve uma relação quase esquizofrência entre dois aspectos muitas vezes conflitantes: a fruição plena de um prazer e a observação atenta aos porquês desse prazer. "Isto é bom? Mas por quê? O que faz disso bom?"Enfim, um estado análogo ao "beber com atenção", que era como o professor Peynaud definia o ato de degustar um vinho.
Enquanto uma metade relaxa, se rende, a outra permanece vigilante. É o superego que assiste à satisfação do instinto, é aquele observador (sim, você mesmo ou alguma instância que se comporte como tal) que não tira os olhos da sua boca enquanto você mastiga. Tem horas em que penso que estou ficando maluco: quem é esse cara parecido comigo olhando para o meu prato?Certamente, é também algo que mistura e sobrepõe uma série de referências e informações que vão do repertório pessoal à cultura geral. O que lemos, o que pensamos, o que nos atiça o senso de equilíbrio (ou desequilíbrio) estético. Mas, voltando, é antes de tudo o exercício de se flagar em meio a uma emoção.
Melhor do que escrever logo depois de uma refeição, é fazê-lo no dia seguinte - ou, no mínimo, com boas horas de distância. Na hora, no momento da garfada, temos revelações, impressões que podem ser as principais norteadoras daquilo que queremos contar. Essas primeiras percepções, claro, não podem ser perdidas. Mas ter um tempo para refletir é fundamental. Tempo para observar como foi a digestão - até do ponto de vista fisiológico; para relembrar, longe da mesa, o que assimilamos de uma entrada ou de um prato; para entender o que significou o programa como um todo.
Mas é verdade que nem toda refeição inspira tanta reflexão. E, na urgência de quem avidamente só quer saber se deve ou não ir a um determinado restaurante, nos resta a comunicação no nível mais básico da experiência. E ser curto e grosso: gostei, não gostei.

2.1.09

Casamento no interior

Planejar casamento não é fácil. Planejar o cardápio do casamento com orçamento baixo é pior ainda. Para mim, bufê de casamento até uma determinada faixa de preço é sempre a mesma coisa. O filé ao molho madeira, as batatas coradas que viram um detestável purê no meio do serviço, salgadinhos gordurosos, enfim, aquele terror homogêneo e insosso. Diante da terrível e inexorável realidade, pensei que gostaria de encomendar ao menos os melhores doces que meu dinheiro pudesse comprar. Elegi meus docinhos (brigadeiro de castanhas com geleia de damasco, brigadeiro caramelizado com pistache, camafeu, brigadeiro branco com damasco...), mas precisava ainda dos extras. Minha sogra fazia questão de bem-casados. Sem empolgação, escolhi os meus. Percebi que minha mãe não estava empolgada também. Demorou, mas descobri o motivo em uma conversa 'despretensiosa' na cozinha.

minha mãe: "Então... Contratou os doces?"
eu: "Sim, tudo pronto"
minha mãe: "E as balinhas de coco?"
eu: "Não... Isso não é de festa de criança?"
minha mãe: "Nunca vi um casamento sem balinhas de coco" (cara triste)

Bom, lá fui eu encomendar as balinhas de coco. E conheci o Sr. Vivaldo, na Rua Dr. Trajano. Há 50 anos a família dele faz as melhores balinhas da região. Em uma máquina que funciona com manivela, ele extrai do coco in natura o delicioso leite que vai ao fogo com bastante açúcar. No ponto puxa-puxa, o doce vai para o mármore e é rapidamente moldado em tiras, para ser cortado como um nhoque. Esta receita é simples, trabalhosa, mas este senhor simpático de cabelos brancos mantém igualzinha, todos os dias, tal como sua tia o ensinou.
Não bastasse isso, ele ainda faz caixinhas de papelão para entregá-las aos clientes. Só os desesperados como eu dispensam o mimo para carregar as guloseimas no avião, a caminho da lua de mel.
Qualquer dia desses, antes de eu acabar com meu estoque de coco puro e de chocolate, fotografo e posto. Mas para experimentar, você vai ter de encomendar a sua.

(A propaganda dele é demais: "Para pessoas especiais que têm quase tudo... Dê balas de presente!!!)

Balas Caseiras Tia Lina. (Sr. Vivaldo). (19) 3441-6536.

Sobremesa de prateleira




Para os momentos de desespero por um sorvetinho, mas no contexto da crise financeira, vai aí um projeto de sorbet de manga que pode salvar sua vida. Está no freezer do supermercado um potinho de sorvete de manga da Kibon. Custa R$ 8. Se puder, coloque no carrinho o colega dele, o sorvete de coco "com pedaços da fruta". São bons amigos nas tardes de verão.
P.S.: Acabei de ler no site da Kibon que há também as versões graviola e cajá. Onde estão? Quero já!!


Em 2009...

Todo ano eu faço uma lista de promessas para mim mesma: voltar a estudar (ai, ai...), emagrecer, limpar o armário, jogar as tranqueiras fora, fazer exercícios, parar de tomar refrigerante, parar de falar mal dos outros, mudar de vida. Bom, este ano não prometi nada a mim mesma. Só tenho anseios, sem a pressão do compromisso.
Um dos anseios é usar este espaço aqui. Para exercitar a escrita, jogar umas ideias fora (olha o novo acordo ortográfico sendo cumprido!) e me divertir um pouco mais no trabalho que impus a mim mesma: comer.

*.*

Meu primeiro compromisso com a cozinha depois do casamento foi o ano novo.
(Se você está achando um absurdo eu ter esquecido do Natal, anote aí: por que me acabar na cozinha se as mães já cuidam de tudo há 30 anos?)
Decidimos ficar os dois sozinhos, eu e o marido, celebrando nossa casa na passagem de ano. Como não tínhamos habilidade para aprender em dois dias os mistérios do preparo do menu de fim de ano, recorremos às rotisserias. Aí valeu nossa expertise de reportagem: procuramos as casas, anotamos preços e cardápios. Decidimos então pela Il Pastaio.
A casa ostenta mais de 40 anos de tradição cozinhando para gente preguiçosa, incompetente ou desesperada. Orgulha-se também de preparar massas artesanais e docinhos italianos. Durante a semana, o pequenino salão fica apinhado de executivos da região da Avenida Paulista. Eles se apertam nas mesinhas para experimentar as tais massas e alguns molhos pesadíssimos. O nhoque ganhou pontos conosco por ser de batata de verdade (e não aquelas mentiras preparadas só com farinha de trigo). Bastou para que pedíssemos a ceia. No nosso menu havia um tender macio, embora tenham errado a mão no açúcar da calda; um suculento pernil; um arroz com castanhas um tanto cremoso que decidiram chamar de risoto; farofa amarelinha de frutas; um salpicão.
É a comida confortável da casa da mamãe, sem economia de ingredientes. Acho que valeu a pena.
Para a primeira refeição de 2009, começamos bem. Que venha mais!

Il Pastaio. Al. Santos, 44, Paraíso, 3289-8897.