3.10.09

Aquilo que se espera

Depois de alguns anos como repórter de gastronomia, cheguei a apenas uma conclusão: não quero ser chata. Às vezes é inevitável, mas não quero. A torta de limão da minha sogra me provoca o mesmo entusiasmo que o sorbet de chocolate 70% feito pelo pâtissier que adoro. E a feijoada que preparo me faz raspar o prato tanto quanto o brasato al barolo que comi na trattoria bacana dos Jardins.

É por isso que me permito ficar irritada com redes de doces. Simplesmente não é frescura. Ontem visitei uma delas, a Amor aos Pedaços. No ano passado, conheci a fábrica, na condição de jornalista, ouvi a história da fundadora, vi a matéria-prima. Parecia, em grandes proporções, a cozinha de uma doceira de bairro, caseira.

Tudo é muito bonito. O problema é ir às lojas.

Os bolos dulcíssimos e carregados de chantilly são a base do cardápio. Às vezes a receita até é honesta (caso do bicho de pé). Tudo isso eu espero, estou ciente. Só não me conformo com os preços absurdos (R$ 10 por um pedaço de torta com um pseudomarzipã), a 'carta de cafés' de enfeite e má educação generalizada dos funcionários.

Na unidade da R. Cardoso de Almeida, no sábado, um senhor perguntou o que seriam as receitas expostas no balcão. A moça muito gentil disse: "Ah, sei lá, é torta, é sorvete, é doce". Era sorvete da pior qualidade. Mas ela não precisava ser tão adorável.

Moral da história: errada estava eu de perder meu estômago e meu tempo no sábado. Sobretudo se eu já sabia o que esperar.

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