18.11.09

O primo rico do requeijão

Dia desses a família se reuniu na Bráz e lá, antes da pizza, começou meu desejo súbito: burrata. Um e outro já buzinaram no meu ouvido sobre as maravilhas do queijo da Cia Tradicional de Comércio (nome que reúne os sócios de lugares horrorosos como o Pirajá e o Astor, onde já comi mais do que deveria, bebi até, ganhei quilos e gastei como se não houvesse amanhã). Mas eu não comi a dita cuja. Culpa do sistema do meu pai de comer o mínimo quando se sai de casa - e que se danem suas vontades súbitas. Programe melhor seu estômago.
Tentei em vão arrastar o marido de novo para a Bráz. Mal sabia que teria outra oportunidade.
Hoje os colegas de redação, rebelados pela jornada insana de trabalho, resolveram almoçar no Pasquale. Veja bem, não sou parte da turma de fãs da casa. Acho anfitrião mal-educado, os preços alto demais para o produto que entregam, enfim, nunca me apaixonei por nada ali.
Mas eu comi a bendita burrata. Com direito a raspinhas de limão siciliano. Comi muito, quase sem educação alguma, abusando dos pães da cestinha.
Comi a burrata, que delícia, eu estava morrendo de fome. E ela estava muito boa. Mas aquela da Bráz, um dia não me escapa.

Bráz. R. Vupabussu, 271, Pinheiros, 3037-7975.
Pasquale. R. Amália de Noronha, 167, Pinheiros, 3081-0333.

17.11.09

Só cenário

Eu gosto de comer. É simples assim. Por isso fiquei tão irritada com um almoço no Cantaloup. Mais de R$ 100 para uma refeição desastrosa. A entrada estava salgada a ponto de me fazer beber a água inteira. Um risoto insosso, sem sal, que deixei praticamente inteiro no prato. E uma sobremesa que tinha sorvete da Sottozero - e que custava mais de R$ 20.
O lugar é grande, meio 'restaurante de mãe' (aquela coisa que era chique no começo dos anos 90), estofados puídos. Para mim, só cenário de uma cozinha que já viu chefs chegando e indo embora algumas vezes nos últimos tempos.
Não vou nem dar o endereço.

16.11.09

Feijoada completa

Otávio Canecchio, ex-repórter de bares da Vejinha, deixou a vida bandida de jornalista e se tornou um respeitável dono de boteco, o ótimo Veloso, cuja coxinha e a feijoada ficaram famosos.
Ontem comi a feijoada dele no aniversário de um amigo. O aniversariante levou o panelão para a casa do sogro e ali comemos o feijão, as carnes, o molho de pimenta, tudo como sempre maravilhoso. Mas naquele dia meu ritual da feijoada mudou. Agora preciso de empadas antes de fazer o prato.
Dona Maria do Carmo, mãe do amigo, faz salgados para vender há uns bons 15 anos. E ficou famosa entre os conhecidos por sua empadinha. Pois eu comi o salgado ontem pela primeira vez. A massa, que é feita com banha, derrete na boca. É um tanto quebradiça, mas firme a ponto de não se desfazer nas mãos. O recheio é simples e perfeito: só frango desfiado e ervilhas, sem molho ou esse jeitão de recheio de empadão.
É um dos melhores quitutes que comi na vida. E Dona Maria do Carmo aceita encomendas. Você também pode mudar seu ritual da feijoada no Veloso - Otavio vende as empadinhas de palmito que ela faz.
Melhor que isso, só a oportunidade que tive: comer junto com ela, com uma boa prosa, ouvindo suas histórias. Quem sabe na hora de você encomendar?

Veloso. R. Conceição Veloso, 56, V. Mariana, (11) 5572-0254.

13.11.09

À vontade

Reprodução
Visitei três vezes o D.O.M. na vida, todas como pessoa jurídica. Em uma delas comi o PF, meio assustada com o peso da coisa toda, os garçons gentis demais, o lugar bonito demais, os preços altos demais para o meu bolso. Aí veio a comida, arroz, feijões (são dois, roxinho e preto), farofa, batatinhas, carne. Tudo tão familiar, embora tão bonito, que fiquei à vontade. E comi. Comi com gosto. Até tive tempo (e coragem) para comer todos os docinhos que acompanhavam o café - e ser eu mesma para falar com o garçom, como se fosse uma grande novidade, que um outro estavam uma delícia. E que um dia comi aquela semente, que ali estava envolta em chocolate, mas crua, crocante, na casa de uma amiga.
Mas a melhor visita foi a segunda. Eu estava ali, sentada em um banquinho do bar, à espera do padeiro para entrevistá-lo. Não tinha marcado com ele, fui de susto mesmo. Esperei, esperei. Tive tempo de falar com maître sobre a tinta desgastada, que sofreu como uma goteira provocada pelas chuvas fortes daquela semana. E perguntei sobre os patuás que vi atrás daquela porta enorme: se bem me lembro, umas fitinhas do Bonfim e o que mais me chamou atenção, sal grosso. Era para proteger o restaurante. E aí eu vi que é tudo muito chique, muito festejado, muito tudo. Mas ali tem gente.
O maître me levou então para ver as imagens dos santinhos na cozinha (São Benedito, São Jorge...) e me apresentou ao Geovane. Na minha ignorância, eu não sabia quem era. Mas o moço tão simpático e um tanto tímido me perguntou: "Você já conhece a cozinha?". Eu disse que não, meio sem graça, e ele então me puxou pelo braço, foi me apresentando para todo mundo, mostrando os caldos, as panelas de feijão, as grelhas das carnes, explicando tudo com tanta paixão, que eu esqueci onde estava e só fiquei ouvindo aquele homem abrir a porta da sua cozinha.
Aquele moço tão simpático é o Geovane Carneiro, braço direito do Alex Atala. Li sobre ele em um perfil da Playboy deste mês, feito pelo Jardel Sebba. O perfil era sobre o chef e contava que o moço-tão-simpático já emprestou dinheiro para o Alex abrir um restaurante. Mas tive a sensação de que o Geovane merecia um também.
D.O.M. R. Barão de Capanema, 549, Jd. Paulista, 3088-0761/3891-1311. www.domrestaurante.com.br