27.12.09

Receita de família

Sempre gostei de receitas de família, esse mistério, essa exclusividade caseira que ronda os cadernos amarelados e as invejas em amigos e vizinhos. Mas achava que rusgas e ciúmes culinários eram coisa exclusiva de filmes, novelas e gente caricata do interior.
Pois eu estou tentando entrar para uma família um tanto ortodoxa no assunto. Digo tentando porque papel de casamento não quer dizer nada se você não tem a sua receita exclusiva-sensacional-maravilhosa-secreta na casa dos pais do meu marido.
Descobri isso ao longo do ano e ficou tudo muito claro na hora dos preparativos do Natal, a apoteose da cozinha da família. O tio x tem a farofa disputadíssima; a prima y prepara um creme de milho inigualável; a outra tia é responsável por um tal rosbife; minha sogra, as sobremesas e a regência do banquete. Enfim, todo mundo tem sua arma.
Sou comilona profissional, mas cozinheira aprendiz. Mas tentei me arriscar. Pensei na farofa de Niterói, mas era simples demais para a ocasião. Me aventurei em uma bavaroise de coco com calda de ameixas. O pudim/mousse deu certo. O problema foi a calda-canalha. Refiz duas vezes. Em uma delas, consegui balas carameladas de ameixa.
Intrépida, arrumei uma vasilha de vidro bonitinha e levei. Sobrou bastante, não consegui vencer um pavê de batata-doce. Vou continuar tentando. Uma hora, entro para a família.

6.12.09

Fuso horário

Tentávamos ontem eu e o marido escapar do Ráscal do shopping Villa-Lobos. Era só almoçar mesmo, para gastar pouco. Ok, talvez não tão pouco quanto na praça de alimentação do shopping.
Pensamos em Pirajá, mas quase na esquina desistimos. A tarde de sábado poderia virar uma tortura. Pensei no Vito, que fica na Rua Pascoal Vita, uma travessa da Rua Natingui. Muita gente fala que a comida é bem-feitinha, a preços honestos. Por que não?
Na porta, um casal e um rapaz. Ele nos cumprimenta e diz, esbaforido ou constrangido, não sei bem, que a duplinha ao lado vai ocupar a última mesa do almoço. E que ninguém ali dentro tem previsão de fechar a conta em menos de trinta minutos. Uma pena, pois faltavam cinco minutinhos para casa fechar. Nossos relógios marcavam 14h49.
É direito do restaurante fazer seu próprio horário. Mas pensei no que o marido disse: "Não dá pra um restaurante que pretende ser sério e bacana fechar antes das três da tarde no sábado. A cidade tem outro ritmo". Será?
Fiquei com fome. E agora com medo de voltar lá.
Fim da conversa: "Obrigado, desculpem e fiquem com Deus".

Menu de fim de ano

Inspirada pelo Prêmio Paladar (vesti a camisa da firma, Brasil), deixo uma lista dos melhores pratos que comi (e bebidas também) nos últimos tempos. Ganhe seus próprios quilinhos, leitor.

- Tagliatele com limão siciliano e farofinha de pão, do Arturito.
- Musse de chocolate, do L'Entrecôte de Ma Tante.
- Pudim de tapioca com baba de moça, do Tordesilhas.
- Cupcakes de Baileys, Triple Chocolate e de brigadeiro com pistache; chá gelado de limão siciliano, tudo da Wondercakes.
- Biscoito de polvilho; ovo perfecto; sobremesa 'O Ovo'; entrada de batata + polvo; guaraná com frutinhas picadas; peixe do dia com espuma de tucupi, tudo do Maní.
- Panelinha de frutos do mar, empada de camarão e caju amigo, do Astor. Martini de lichia, do SubAstor.
- Ovo mollet, do Così.
- Cuscuz de camarão e pupunha; picadinho; macarons de chocolate e de pistache; um doce de chocolate recheado com creme de gianduia; um doce de chocolate com bananas, tudo do Le Buteque.
- Trouxinha de camarão e abóbora, do Aoyama.
-Sanduíche de pasta de ovo e de pasta de galinha; suco de água de coco, abacaxi e uva, do Madureira Sucos.
- Batatas fritas e milk-shake de milho, do Zé do Hambúrguer.
- Cheesecake de queijo de cabra, da Tappo Trattoria.
- Ceviche tradicional; polvos com páprica (?); ceviche de atum com manga; menu de sobremesas, do Killa.

Truque de domingo




Assisti ao filme Julie e Julia e você que está lendo agora tem o direito de pensar que isso é clichê. Eu no seu lugar talvez fizesse o mesmo. Mas a bola é minha, o campinho é meu e vou dizer duas coisinhas sobre o filme.
Aconteceu uma identificação ali logo nos primeiros minutos. Primeiro, manteiga é uma das melhores coisas do universo mesmo. E comer é uma das minhas atividades preferidas. Se eu pudesse, viraria uma Julie também (olha outro clichês, aí). Para aprender a cozinhar direito, brigar com o marido por algum motivo nobre (picadinho, oras) e ter um projeto muito legal para este blog.
Por enquanto, não há uma Julia Child para me guiar. Fico dependendo da Nigella, do Emeril, do Jamie, dos bonitões do chef em domicílio, das pilhas de livros que acumulo, das dicas dos amigos mais talentosos e do jornal.
Por ora, sem receitas aqui. Só uma gulosa que leva comida a sério, ordinária e petulante o suficiente para colocar umas letrinhas na rede.
P.S.: Marido, se quiser colocar o livro no meu kit de presentes de Natal, "fica a dica".